Resenha: Retalhos - Craig Thompson

Retalhos
Autor:Craig  Thompson
Ano: 2009
Páginas: 592
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: Uma das graphic novels mais premiadas dos últimos tempos, Retalhos é um relato autobiográfico da vida no Meio Oeste americano. Thompson retrata sua própria história, da infância até o início da vida adulta, numa cidadezinha de Wisconsin, no centro dos Estados Unidos, que parece estar sempre coberta pela neve. Seu crescimento é marcado pelo temor a Deus - transmitido por sua família, seu colégio, seu pastor e as trágicas passagens bíblicas que lê -, que se interpõe contra seus desejos, como o de se expressar pelo desenho. Ao mesmo tempo Thompson descreve a relação com o irmão mais novo, com quem ele dividiu a cama durante toda a infância. Conforme amadurecem, os irmãos se distanciam, episódio narrado com rara sensibilidade pelo autor. Com a adolescência, seus desejos se expandem e acabam tomando forma em Raina - uma garota vivaz, de alma poética e impulsiva, quase o oposto total de Thompson - com quem começa a relação que mudará a visão que ele tem da família, de Deus, do futuro e, enfim, do próprio amor. Retalhos traz as dores e as paixões dos melhores romances de formação - mas dentro de uma linguagem gráfica própria e extremamente original.

O que achei:

"Como é bom deixar uma marca na superfície branca, fazer um mapa dos meus passos, mesmo que seja temporário"

"Retalhos" é uma das graphic novels mais premiadas dos últimos tempos. Nela, o autor Craig Thompson faz o seu relato autobiográfico da infância até a vida adulta em uma cidade pequena de Wisconsin nos Estados Unidos. Os medos, primeiro amor, os seus primeiros rabiscos, religião, abuso sexual, o relacionamento com a família (principalmente com o irmão) assim como arrependimentos.

Quando criança, Craig retrata sua infância com o irmão em uma família religiosa e rígida. A sua paixão desde cedo pelo desenho e de como isso não foi aceito pelo meio em que ele vivia. Na medida que vai crescendo distanciou-se do irmão (que dividiu a cama por muitos anos) e uma culpa o assombra por muitas vezes por não ter defendido-o (e a sí próprio) dos males.

Algo que é possível sentir é a delicadeza ao falar sobre assuntos tão "polêmicos" ou que muitos não tem coragem de discutir. Como abuso sexual na infância, ou então sobre a religião já que o Craig, que vem de uma família cristã rígida, sempre questionou sobre o papel da religião e de Deus na nossa vida. Porém, assim como com muitos, a repressão é a que se destaca ao invés da explicação. É assim que ele passa a buscar compreender sobre ela através da bíblia. E por muito tempo acredita que os seus desenhos eram errados e que estava desrespeitando Deus através deles.

Eu li sobre como muitas pessoas se sentiram "ofendidas" pelos temas tratados no quadrinho. E eu, como cristã, não senti isso em momento algum. Vi somente um jovem aberto, curioso, e que ao invés de falar coisas sem sentido como muitos atualmente, vai atrás da informação "na fonte". E confesso que me identifiquei com muitas daquelas dúvidas abordadas.

Em determinado momento Craig  conhece Raina. E é através dela Craig  passa a ver o mundo por outros olhos. Um ponto que eu achei interessante é de como de certa forma Craig substitui uma obsessão por outra. Raina por vários momentos passa a ser o centro de seu mundo. E o conflito entre Deus e ela na mente de Craig é a todo instante. Já que ele desperta para a sexualidade. Um tabu que por muito tempo foi visto como errado.


Em uma visita a casa de Raina, Craig  conhece a sua mãe que se divorciou, os dois irmãos adotados que possuem deficiência e a irmã mais velha que vive em um casamento fracassado mesmo com pouco tempo. E percebe como somos tão diferentes um dos outros. É nessa relação que ele passa a ver o amor, a família, a religião e o modo de ver a vida de outra forma.

E é Raina que dá a ele a colcha de retalhos. Que aqui pode ser vista como pequenos fragmentos de Craig. Cada ponto diferente e conflitante que se junta em um só.


Craig tem o dom de contar histórias. E meu deus o que foi esse traço? Eu fiquei completamente apaixonada pelo cuidado (na resenha do blog postei algumas que amei) que o autor teve com as expressões. A cada emoção o traçado ficava de uma forte. Às vezes mais leve, às vezes tão pesado como um borrão. Maravilhosa!

Retalhos é um grito. É um desabafo . Uma história que ficou presa no íntimo e que enfim pode ser contada. E tudo isso com uma delicadeza. Com um cuidado e um respeito ímpar.

É sincero.

Uma história sobre amadurecimento. Sobre como a busca incansável de saber quem realmente somos não é fácil, mas também pode estar tão facilmente claro que não conseguimos (ou não estamos preparados para) ver.

Sinto dizer que a sensação que tenho é de que nem com todas as palavras eu posso expressar o quão esta história é genuinamente maravilhosa. E talvez. Daqui um tempo quando eu reler (sinto que farei isso!) tirarei outras lições, outros segredos e declarações escondidos em um traço.

Imperdível.


Obrigada Pedro por ter me emprestado ❤️. Espero comprar meu exemplar em breve.

Sobre o autor:

Nasceu em Traverse City, Michigan, em 1975 e foi criado na zona rural de uma pequena cidade de Wisconsin. Após trabalhar no departamento de design de uma das maiores editoras de quadrinhos dos Estados Unidos, a Dark Horse, ele começou sua carreira de quadrinista e lançou seu primeiro álbum, Good-Bye, Chunky Rice, em 1999. Publicou também Cadernet de voyage, um relato de viagem sobre a turnê de divulgação de Retalhos na Europa.

Sobre a edição


A Companhia das Letras sempre arrasa em termo de quadrinhos (também). Ótima edição, ótimo papel e qualidade pois mesmo grosso desse jeito não fica quebrada a lombada. Maravilhovisk!

Nota no Skoob


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